Comemora-se hoje o
Dia Internacional do Enfermeiro, dia de homenagem e de reflexão. Se a reflexão é feita diariamente, e bastante haveria para reflectir sobre os dilemas actuais de Enfermagem, aproveito esta oportunidade para a homenagem suspeita mas merecida aos enfermeiros, as pessoas que tornam esta profissão, a profissão mais bonita do mundo!
E a homenagem que pretendo fazer passa pela resposta a uma simples questão:
"O que é ser enfermeiro?"
Enfermagem: profissão de referência!Ora bem , começo por explicar o facto de considerar a enfermagem como
a profissão mais bonita do mundo. Segundo a minha concepção de vida, a vida existe com uma missão única e transversal à natureza, revelada na mensagem de Deus
“Amem-se uns aos outros como eu vos amei”. Amor! É esta a verdadeira missão da existência humana, e para esta missão existem diferentes criações, com diferentes papéis, incluindo os papéis profissionais. Se cada papel profissional integra um contributo valioso para a existência humana e para o amor ao próximo, o papel do enfermeiro tem, na minha opinião, um lugar de destaque entre esses papéis, dado o seu imenso carácter relacional e de proximidade com as pessoas, sendo a relação o meio mais rico para o crescimento dos Homens e do amor. Arrisco a dizer que
enfermagem é a referência no caminho da existência!Breve Concepção Pessoal de EnfermagemDe facto, a falsa imagem da enfermeira extremamente jeitosa que dá injecções é um estereótipo pobre demais para a riqueza que a palavra “cuidar” proporciona. E
cuidar é vestir a pele de anjo, movendo o branco pelos corredores cinzentos e depressivos!
Cuidar é dar luz, e luz é sinónimo de energia, entrega, dedicação, partilha!
Cuidar é ser cúmplice no momento da fragilidade humana, é o toque, é o sorriso, é a mão estendida,...!
Na minha concepção de enfermagem,
os doentes são a minha segunda família, e como familiares que são quero o melhor para eles, tal e qual como gostaria que fizessem para os meus! E, neste caso, o conceito de família não serve apenas como meio facilitador da parceria dos cuidados, é para mim um meio naturalmente instalado, típico de um profissional que convive 365 dias por ano e 24 horas por dia com a pessoa/doente, no limiar entre a recuperação e o sofrimento, com noites mal dormidas e fins de semana perdidos.
Além disso, este conceito alarga-se também à família do doente, não só pelo desfile de elegância protagonizado nos corredores das unidades de saúde (tanto netas como filhas, cada uma melhor que a outra!), mas fundamental e realisticamente pela necessidade que todos os intervenientes do cuidar sentem, numa perspectiva holística (a pessoa como um todo) do cuidar. Isto porque o sucesso dos cuidados prende-se com o sucesso da tríade enfermeiro-doente-família, dado que em cada interveniente existem necessidades insatisfeitas mas colmatadas em parceria.
No fundo, como em todas as profissões, há bons e maus profissionais, para mim
os bons profissionais de enfermagem são aqueles que conseguem aliar a responsabilidade à boa disposição, conjugando numa só pessoa a ciência, a arte e o amor.
Enfermagem na primeira pessoaApesar do carácter angelical do enfermeiro, este é um ser humano e, como tal, também apresenta oscilações de humor, tendo também os seus “bad days”, em que qualquer coisa seria melhor do que trabalhar. Confesso que já tive vários dias assim, muito por culpa das insónias nocturnas, mas felizmente o afecto dos doentes e a cumplicidade da fantástica equipa de auxiliares encobriram esse cansaço e revelaram a força que há em mim! Como é bom entrar na sala de convívio dos doentes e perceber o seu sorriso e brilho no olhar, ouvir expressões como “Olha, aí vem o meu querido...”, “Já há muito tempo que não aparecia...” ou “ Você faz falta aqui!”, e sair do serviço exausto mas com o dever cumprido, porque o amor acontece!
Depois, parecendo que não,
enfermagem é das profissões mais predispostas ao humor, dada a proximidade com as pessoas, e cada pessoa possuir o seu estilo próprio. Curioso quando em certo dia entro na sala de estar dos doentes e uma doente chama-me e, quando me aproximo, pede-me para a levar...ao céu! Desde esse dia começou a tratar-me por “amor” e o seu estado de saúde teve uma evolução favorável (juro que não a levei ao céu!). Ou então a doente que desde sempre me confundiu com o neto, e cada vez que entro no quarto sorri e, convictamente, saúda-me “ Olá Fernando...”, perguntando-me também pelo António, ao qual respondo-lhe que está na apanha do milho...Podia também contar a história da doente que lavava as cuequinhas com a água do fundo da sanita e estendia-as no bidet, no entanto a partir daqui as histórias seriam cada vez mais surreais e ficarão para outra altura ou noutro contexto...Isto tudo porque há humor nos cuidados de enfermagem, e só se pode entender a Enfermagem desta maneira, senão entraríamos tristes e sairíamos deprimidos, não sabendo a certa altura quem seriam os verdadeiros doentes.
Em suma, muito mais haveria a dizer ao tentar transmitir pessoalmente a essência da enfermagem, mas importante é mostrar que
o enfermeiro deixou de ser o “mecânico das pessoas”, para transformar-se no “anjo das pessoas”. Lanço agora o repto aos participantes deste blogue para também responderem à pergunta inicial, sejam enfermeiros ou não, porque afinal de contas todos já passaram por uma unidade de saúde.
Fica sempre tanto por dizer...