domingo, 9 de dezembro de 2012

Raven: "Ninguém é uma vagina ou um pénis"


GC: Em que altura da tua vida conheceste o teu namorado?
R: Em Fevereiro de 2011. Quando já tudo tinha acontecido, quando já estava só com a minha mãe, no mês em que faria 22 anos.
GC: E onde se cruzaram?
R: Destino. Ele abriu um café ao lado da minha casa. Fez amizade com a minha mãe e a minha tia. E um dia, o pai dele, em tom de brincadeira, decidiu dizer à minha mãe: "tenho aqui este moço solteiro, a sua filha também é, porque não os juntamos?". A partir dai, achei piada a brincadeira e comecei a meter-me com ele. Sempre que ia lá tomar café, mostrava-lhe o dedo anelar e dizia-lhe "decora bem o tamanho! Quero um diamante bem bonito!". E ele ria, achava-me piada.
GC: E o momento onde tudo começou foi digno de um diamante?
R: Não sei... giro foi! Tudo começou a partir desta brincadeira. Porque uma semana depois desta situação, foi o meu aniversário e ele aparece-me com um anel de diamante (dos chineses, claro) e deu-me em frente a todos os meus amigos. Morri de vergonha! Mas foi divertido. Depois, tudo surgiu num convite para sair…
GC: Tudo surgiu num instante ou foi mais um teste de paciência?
R: O beijo sim. Fiquei chocada comigo. Nunca fui assim. Na primeira saída à noite beijamo-nos. Arrependi me muito! Passei a seguinte semana a fugir dele, a evita-lo. O resto demorou. Demorou porque ele tem mais 8 anos do que eu e a confiança é algo que se constrói…
GC: O amor tem idade?
R: Não. Mas é mais difícil. O amor é amor, apaixonamo-nos por caracteres, almas. Mas cada idade traz objectivos, ambições e é difícil de conciliar. Eu própria digo sempre que não tenho um namoro, tenho um emprego! Dá muito trabalho. Uma pessoa aos 30 já deseja coisas que uma pessoa com 20 nem sonha. É preciso muita paciência e compreensão…
GC: E distância física?
R: Ui... eu acredito em amor à distancia. Agora há pessoas que não têm maturidade para tal. Não é fácil, claro que não! Mas acho que quem ama prefere ver a pessoa quatro vezes ao ano do que nunca a ter. Mas é um trabalho mais intenso, porque temos de fazer outro tipo de exercício, temos de estar sempre a inventar, temos de dar a sensação de presença em algo que está ausente.
GC: Durante a tua história de amor, o que valorizaste mais?
R: A aprendizagem. Sem dúvida. Porque a idade não é o único obstáculo. Eu e o João somos de mundos diferentes. Ele sempre foi muito mimado, os pais fazem lhe tudo, ele tem uma família extremamente unida ao ponto de eliminarem a individualidade, são um todo. Ele é muito mimoso e eu muito fria. Temos passado opostos, eu sempre muito certinha, ele sempre um badboy. Não é fácil conciliar. Brigamos muito, desafiamo-nos muito, estamos sempre em conflito, nem sempre nos compreendemos, mas ainda nos mantemos porque sabemos que com calma conseguimos. Se há amor, o resto pode ser trabalhado. Temos é de aprender a não puxar cada um para seu lado. E de há uns meses para cá estamos a conseguir...e se amanha este namoro acabar vou ficar contente porque valeu a pena. Eu ensinei o João a pensar por si próprio, a lutar, a ser mais independente. E ele ensinou me a não ser tão dura, a mostrar me mais. Comecei a chorar em frente a outros desde que namoro com ele!
GC: Casamento em vista ou uma ideia fechada e sem sentido?
R: Ideia ambígua! Eu acho desnecessário, um gasto de dinheiro para os outros verem. O amor não é material, não precisa de música e flores e convidados. Um papel e euros gastos não mudam nada. Por mim, casaria numa cerimonio espiritual bonita, só eu e ele. Mas ele não. Ele é muito materialista, adora a festa, adora a ideia da mulher com o vestido, dos amigos perto dele nesse momento importante...
Como uma relação é um conjunto de cedências, não me importo de casar com festa e fazer lhe a vontade. Mas será um dia cansativo na medida em que o acho desnecessário e sem sentido mas de todos os modos já não! Acho-me muito jovem…
GC: Falaste há pouco da exposição da tua "primeira vez" com o João no teu blogue. A polémica surge porque a virgindade tem ou não prazo de validade?
R: Claro que não! Se bem que, por algum motivo, hoje em dia a virgindade é vista como um fardo. Algo que tens de te desfazer o mais rápido possível na adolescência. Qualquer dia temos miúdos de 10 anos mais rodados que muita prostituta, meu Deus! Parece-me uma loucura. Tenho várias amigas a chegar aos 30 que se mantêm virgens. É normal. Anormal é sentir um fardo por respeitar o nosso corpo.
Não somos objectos, os órgãos sexuais não são pedaços de carne que vão apodrecer por não terem utilidade. Acho apenas que tudo tem o seu tempo, cada pessoa tem o seu momento, o Destino de que falámos há pouco. Basta sermos sensatos e respeitarmo-nos. Ninguém é uma vagina ou um pénis, somos ideias, atitudes.
GC: E filhos, muitos, poucos ou nenhum?
R: Tema polémico... Nunca gostei muito de crianças... Não as acho fofinhas e lindas, como 90% do mundo. Não lhes ligo importância. Não que as odeie ou trate mal, simplesmente não me captam a atenção.
Nunca quis ser mãe e mantenho essa posição até agora mas tenho consciência que o relógio biológico não avisa, é uma questão hormonal. E o facto da mulher ter como que um "prazo de validade" pode ser uma pressão-chave.
Não posso dizer nunca. Não me vejo a ter filhos, não me vejo a deseja-lo mas... quem sabe o que quererei aos 30 anos?
GC: Por amor serias capaz de acelerar o relógio biológico?
R: Jamais. Gerar uma vida é muita responsabilidade. Ou é algo que desejamos e temos consciência que é uma vida frágil a qual teremos de nos dedicar ou não vale a pena. Um filho muda muita coisa. Ou o temos por nós ou não temos. Não se pode gerar uma vida como se fosse uma prenda, uma vontade a que se cede. Por isso existem muitas crianças não amadas pelos pais…
GC: Qual a relação com a família do João?
R: Tema ainda mais polémico! É péssima. A família dele funciona como um todo, são tão unidos que nem há espaço para respeito. São 3 filhos, mas todos funcionam com os pais. Não tomam decisões sem haver uma aprovação dos progenitores. Têm uma empresa familiar, trabalham todos juntos. A sede da empresa é inclusive na vivenda da família. Tudo é extremamente controlado. E depois surgi eu, a incentivar o João a ir trabalhar para o estrangeiro, a pensar por si, a ter noção que tem 30 anos e necessita de ser homem e tero o seu espaço. Claro que me tornei um alvo a abater…
GC: E que posição toma o João no meio disto tudo?
R: Para ele é muito difícil. No início não via a realidade, estava absorvido por tudo aquilo. Até porque a mãe dele é uma mulher de chantagens, ou é como ela quer ou começa aos gritos a dizer que se mata. Ameaças infundadas mas às quais os filhos cedem sempre. Felizmente, as situações começaram a ser muitas, a mãe e a irmã tentavam prejudicar-me já em frente a ele e começou a ver tudo com os próprios olhos. Felizmente para mim, eles têm poucos estudos e nenhuma inteligência. Foi fácil provar que certas coisas que diziam ou faziam partiam delas. Os próprios tios paternos do João não se falam com a mãe nem com a irmã dele, e quando viram que o João estava a abrir os olhos, foram partilhando com ele atitudes e coisas passadas levadas a cabo pela mãe e irmã e ele entendeu que as queixas não vinham apenas de mim. A minha sogra tem 5 cunhados e só um lhe fala e é pouco. Têm de haver motivos! A minha cunhada é ignorada por primos e tios por alguma razão. Assim consegui ajudar o João a ver a verdade. Agora já fica sempre do meu lado mas é difícil. A família dele está em constantes esquemas, ele tem de brigar muitas vezes, é desgastante para ele.
GC: Que desejos para o futuro?
R: Profissionalmente não sei... estou muito perdida, acabei por não ter área, sou uma mera jovem com o 12º ano. Nem sei o que procurar. Gostava de ter alguma função na qual me sentisse útil e tivesse tempo para a minha estabilidade. O meu actual emprego faz-me não ter vida, passo dias sem ver a minha mãe. Amigos então, já nem sei há quanto tempo consegui ver um!
A nível pessoal só pretendo paz e harmonia, ir conseguindo avançar sem desesperos, ir pagando o meu tecto. E claro, que eu e o João consigamos ter paz porque esta relação tem inimigos de peso.

2 comentários:

GATA disse...

Eu sou uma céptica por natureza, não acredito no amor, e muito menos no casamento. E acho que tudo tem idade.

Mas, tal como a Raven, não odeio nem trato mal, mas não gosto muito de criancinhas... E não entendo o que faz com que as pessoas queiram ter filhos... muitas é para ter alguém alguém que cuide delas quando forem velhas, isso não é amor, é egoísmo!

Raven disse...

Gata: Sei e sinto que o Amor move o mundo, mas está vulgarizado e poucos o reconhecem de verdade.