GC: Afastaste-te
da família também por questões académicas. Que formação académica tens?
R: Nenhuma.
Congelei a matrícula no último ano. Não foi uma época fácil... o cancro, a
pressão, o meu pai, ainda tive de começar a trabalhar... comecei também a
desmotivar-me...
GC: Qual
era o curso?
R:
História e Património.
GC: Porquê
esta escolha invulgar?
R: Sempre
gostei de história. Em criança até dizia que queria ser arqueóloga. Nunca
vacilei na minha escolha até chegar aos 18 anos e perceber que, se grito sempre
que vejo um insectozito com 2 milímetros, se calhar não é uma boa profissão
para mim! Segui história e património, havia a possibilidade desse ramo também
e sou uma apaixonada por arte.
GC: No
entanto não foi possível acabar esta opção. O que fizeste entretanto para
sobreviver?
R: O
verão passado, na semana seguinte a ter congelado a matrícula, fui para Madrid.
Uma conhecida minha falou-me de um casal rico que necessitaria de uma
baby-sitter. Fui. Mas fui enganada. Cheguei lá e o trabalho era como empregada
para uma princesa, prima do rei de Espanha. Entrei em pânico! 1º porque a minha
mãe teve sempre em casa, fazia tudo, nunca cozinhei nem passei a ferro. Depois
porque achei que a monarquia seria uma experiencia complicada. Mas até não...
Depois
ainda tive outro emprego na área do turismo na minha cidade e agora ando a
chatear pessoas porta a porta a vender Cabovisão.
GC: E que
lição retiraste da aventura em Espanha?
R: Que
ainda sou uma princesinha! (sorrisos) Tudo me magoava, tudo me cortava...
descascar batatas para mim é toda uma obra de engenharia. Perdi o dinheiro e a
pose mas não a delicadeza, a qual terei de começar a eliminar inevitavelmente. E
que as pessoas também não são o que parecem, não vale a pena rótulos. A princesa
tinha as suas taras, desperdiçam muito naquela casa, mas também é solidaria e
simples.
GC: O
que dirias aos novos emigrantes deste país?
R: Que
tenham coragem e arrisquem sem dúvida. Ficar na esperança que as coisas mudem,
adorar a pátria, é tudo muito digno mas não alimenta nenhum estômago. Não é fácil
mas é necessário. Sou a favor de arriscar sempre!
GC: E
como se vive a distância dos que mais amas?
R: Com
muita pressão. No meu caso porque sou muito fria, criei uma barreira em meu
redor depois do ambiente em que cresci sem demonstrações de afecto. E é difícil
ser-se tão fechada quando se tem pessoas a exigir telefonemas, palavras, actos…
GC: Quem
são essas pessoas?
R: Mãe e
namorado.
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