O desemprego é actualmente um dos maiores flagelos em Portugal, sendo transversal a diferentes áreas profissionais mas, mais recentemente, à enfermagem.
Efectivamente, tenho sentido que os portugueses têm uma opinião favorável à situação profissional dos enfermeiros portugueses, referindo que a enfermagem possibilita diversas saídas profissionais, ainda denotando a ilusão que também apresentava no ingresso do curso. Mas a situação inverteu-se, pois aquilo que era uma realidade há cerca de quatro anos atrás, é um miragem que se tornou em pesadelo para os milhares de enfermeiros que se licenciaram no ano lectivo 2005/2006 que, tal como eu, vivem situações de desemprego incapacitante ou emprego instável.
Passados 16 anos dos meus 23 anos de vida actuais dedicados à formação literária e profissional, deparo-me com uma situação de oito meses de desemprego, registados precisamente hoje. Durante este período de tempo, disponibilizei os meus serviços profissionais para diversas instituições de saúde em Portugal e candidatei-me a uma série de concursos para reserva de recrutamento que se arrastaram no tempo e sem oferecerem garantias de admissão a curto-médio prazos, tanto para mim, como para os inúmeros candidatos que se acumulavam nas filas de espera de entrega de candidaturas. Cheguei a escrever um artigo no “Jornal de Enfermagem” três meses depois do final do curso para uma maior sensibilização por parte das entidades competentes, no entanto, julgo não ter surtido o efeito desejado.
Além disso, tentando aliar a procura incessante de emprego com a formação contínua, consegui rentabilizar o imenso tempo disponível em áreas temáticas que me oferecessem alguma utilidade e contributos pessoais e profissionais, numa tentativa de libertação do vazio interior típico do papel de desempregado.
Consegui também aperceber-me dos sinais dos novos tempos, compreendendo a crescente importância e delegação de competências no sector privado da saúde em Portugal, dirigindo-me pessoalmente às respectivas instituições da minha área de residência, sendo o meu esforço “recompensado” por respostas negativas às minhas solicitações. A experiência profissional tão desejada por mim constituiu nestes momentos um pré-requisito do qual não dispunha e que, com respostas similares, não a conseguiria tão depressa como pretendido.
Também me dirigi pessoalmente à região de Lisboa, a cerca de 200 km da minha casa em Coimbra, ao aperceber-me que as oportunidades nesta região seriam maiores. Contudo, verifiquei que a falta de enfermeiros nos serviços é acompanhada pela excessiva morosidade nos processos de autorização de ingresso de novos enfermeiros nos serviços de saúde, por parte das Administrações Regionais de Saúde.
Mais recentemente, após a minha inscrição no Centro de Emprego, a minha dignidade bateu quase no fundo e enviei um pedido para um estágio profissional não remunerado num dos Hospitais de Coimbra, reconhecendo que seria um acto injusto e provocatório para a enfermagem. Injusto, porque 16 anos de dedicação na minha vida não perspectivaram um ingresso profissional nestas condições, e provocatório para a enfermagem, porque seria um motivo de arrastamento deste problema em vez de ser mais uma solução, no entanto o desejo de adquirir experiência profissional e de (re)adquirir competências em enfermagem falaram mais alto. Surpreendentemente, este pedido não foi aceite por uma questão de reorganização de princípios institucionais, deixando-me ainda mais desgostoso pelas situações de empregabilidade dos enfermeiros portugueses. Mal vai o país que não protege novos licenciados, nem de graça...
Sendo assim, continuando a assistir ao fecho de serviços de saúde como as Urgências e as Maternidades, à crescente transformação dos Hospitais Públicos para Entidades Públicas Empresariais (E.P.E.) tendo em consideração os lucros económicos, à significativa diminuição de admissões de novos licenciados em enfermagem nas instituições de saúde, à existência de contratos precários na enfermagem e à continuação do ingresso de milhares de pessoas neste curso, pergunto: O que estamos à espera para inverter esta situação? Esta mensagem é um dos meus contributos actuais e, como eu, há milhares de enfermeiros que aguardam pela explosão da bomba do desemprego em enfermagem nos meses de Junho e Julho, aquando da certificação da maioria de novos enfermeiros. Sem soluções profissionais para os licenciados de 2005/2006, acredito que muito poucos serão os novos licenciados de 2006/2007 empregados a curto prazo. Com a consciência desta situação, menores serão os candidatos a enfermagem, piores serão as condições dos assistentes docentes nas escolas de enfermagem e a extinção da enfermagem pode começar aqui.
Fico a aguardar por uma reacção mobilizadora por parte da Ordem dos Enfermeiros e do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, continuando a insistir na procura da minha oportunidade profissional e na defesa dos direitos dos meus colegas.
12 comentários:
É uma realidade o (desemprengo), mas temos que ter fé , esperança que melhores dias vão vir e que este pesadelo vai acabar para milhares de pessoas e tu um dia ainda te vais rir destes tempos angustiantes que tens tido, não desanimes querido amigo.
Beijinhos desta tua sempre tua ( FLAVIA )
Amorzinho, não me vou referir a este post. Apesar de o entender e tu mais que ninguém sabes do que falo...Continua a Lutar não desistas o dia vai chegar...
Deixo-te antes uma montanha cheia de miminhos e um abraço cheio de saudades
custa-me "ler-te" assim...
sei sobretudo que tens toda a razão nas criticas que fazes mas apenas posso dizer para não baixares os braços!
enquanto lutarmos pela conquista dos nossos objectivos é sinal que ainda sonhamos e isso sim é uma dádiva! O poder de sonhar =)
bj**
O importante é não desistir!! Realmente, o desemprego é das coisas que mais me assusta nesta vida e este país parece estar a ser envolvido por esta doença crónica. É assustador!
Mas se observarmos bem as coisas, veremos que não é só a enfermagem ou outra qualquer profissão específica, que se encontra em crise, mas sim todas as áreas no geral. Isto é cada vez mais preocupante...
Estou no promeiro ano de enfermagem. Eu queria seguir via ensino de biologia/geologia pq era o que gostava mais, mas todos os Setembros via aquele horror do desemprego na televisão e foi por isso que escolhi a enfermagem. Eu não gostei nada do tua opinião e receio ter de a esquecer pois é unica forma de conseguir continuar. Espero que tudo isto seja temporario e melhores tempos virão
Anónimo:
Se acreditas que enfermagem é a profissão certa para ti não desistas desse sonho porque, tal como alguns chefes de instituições de saúde já me disseram, isto é uma fase de ajuste temporário para encontrar emprego para todos. De qualquer das maneiras, as situações contratuais e de carreira estão complicadas pela instabilidade que provocam, no entanto penso que não é um problema apenas da enfermagem, assim como acontece na Biologia/Geologia.
Vamos continuar a lutar contra estes desafios mostrando também as nossas posições e se precisares de ajuda podes contar comigo;)
Cumprimentos e fica bem:)
Olá Gonçalo! sou uma aluna do 4º ano de enfermagem do Porto. Como sabes, aqui no Norte a situação não é melhor e revi-me em muitas das coisas que escreveste. Estou prestes a acabar o curso e só uma certeza tenho, a de um futuro incerto... Parece já não haver lugar para os enfermeiros no público, mas a população continua a precisar de nós... Se me permites, gostave de te deixar uma sugestão. O empreendedorismo! Somos uma nova geração e precisamos de trazer novidade para a enfermagem, não podemos esperar mais! Há casos de enfermeiros muito bem sucedidos, que criaram empresas inovadoras. Com essas empresas, fazem sentir à população que os enfermeiros são aoutónomos, inovadores e acima de tudo NECESSÁRIOS!
continua a lutar
Boa sorte!
Anónima:
Gostei imenso do teu comentário. Hoje em dia os alunos estão cada vez mais desmotivados e com algumas razões, e tu mostras a diferença pela inovação, criatividade e motivação para alterar o estado das coisas. É bom saber que daqui a um ano terei mais uma colega com espírito positivo e empreendedor!
Um beijinho e volta sempre :)
Sou enfermeira à quase 3 anos, e neste momento encontro-me a trabalhar em frança, porque O MEU PAIS VIROU-ME AS COSTAS. Passei dias, que viraram semanas, que viraram meses de procura de emprego, e por mais que a minha candidatura tivesse valor,sempre fui ultrapassada pelo maior poder em Portugal, as cunhas. Neste momento trabalho num hospital central em Paris, no qual o meu trabalho é valorizado, e acima de tudo, a minha dignidade é respeitada. A verdade é que por mais desiludida que esteja com o meu pais, o meu desejo mais profundo é voltar para ao pé da minha familia, mas a esperança vai morrendo. So queria dizer que te compreendo...
Eduarda:
Curioso é que este texto tem quatro anos e continua cada vez mais actual. Infelizmente há coisas que não mudam e apetece-me dizer-te para ficares em Paris. Tens o direito ao reconhecimento que em Portugal não se sente. Mas compreendo o teu desejo de regresso, afinal de contas há valores mais altos que se levantam...
Beijinhos e muita coragem :)
Caros colegas;
Moro no Brasil e aqui a realidade nao é diferente da posta por vocês. O desemprego entre os enfermeiros é cada vez maior e quem tem o seu emprego que o segure com unhas e dentes!!! E a valorizaçao profissional cada vez menor, bem como os salários.
Abraços pra vcs!
Renatapris:
A tua mensagem é bastante pertinente para mim actualmente. nos últimos tempos despertei curiosidade pela enfermagem no Brasil. Pelos vistos as dificuldades passam o Atlântico.
beijinhos e muita coragem :)
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