quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Agir para Reflectir, Reflectir para Agir: "O Mito da Sexta-Feira"

"As segundas-feiras são os dias mais odiados pelos portugueses. Odeio segundas-feiras. Eh pá, é segunda, não me apetece fazer nada. Bolas, ainda é segunda-feira. (...) É um dia mau, injusto, em que somos forçados pelo calendário a fazer o que não queremos: deixar de estar em modo de fim-de-semana.

"(...)E chega a terça, que é um dia medíocre, de transição. É uma espécie de quinta, mas para pior. (...)Quando há Liga dos Campeões na televisão, é ligeiramente melhor, mas só para quem gosta de futebol. (...) As terças só nos merecem consideração quando calham a um dia de feriado. Porque aí podemos fazer ponte e uma ponte para um português é como uma derrota do Benfica para Pinto da Costa.

"Nas quartas já começamos a dizer que ainda bem que a semana vai a meio. Ou ao contrário: que a semana ainda só vai a meio. A quarta tem uma vantagem, porém. Já esquecemos que anteontem foi segunda. Para um português, esquecer que houve uma segunda-feira é uma felicidade comparável à de encontrar a última espreguiçadeira da piscina no hotel espanhol. (...) as quartas que são feriado podem ser boas ou más. Boas, se há muitas férias e folgas atrasadas para gozar (que inclui 76 por cento dos portugueses). Más, se não for o caso.

"A quinta-feira é um dia estranho. Porque é um dia em que se fala pouco dos dias. (...) Para não dar azar. (...) Não estamos propriamente felixes por ser quinta, mas apreensivos porque amanhã pode não ser sexta. (...) Como as terças, as quintas são excelentes quando calham a um feriado. São mesmo muito boas e melhores do que as terças porque só se retoma o trabalho vários dias depois.

"E chegamos à sexta. A sexta é uma espécie de vespera de Natal semanal. É a felicidade dessa véspera. É o sexo garantido com a loira de sonho. É sermos nós a marcar o golo que vai dar o título. É como saber que vamos ter a melhor nota no teste que o professor se apresta para entregar. É saber que, aconteça o que acontecer, venha quem vier, ninguém - nem Deus, nem Obama, nem o vizinho de baixo - pode tirar-nos o prazer permanente, constante, intenso e perfumado de ser sexta-feira. (...) É melhor que o sábado porque a seguir ao sábado vem o domingo e depois dele a terrível segunda."

In Cemitério dos Prazeres, de Pedro Boucherie Mendes

Esta é a melhor descrição semanal da maioria dos portugueses. E infelizmente refiro a maioria porque está na sua génese o fado e enfado de cada dia, o suplício de um dia de trabalho, a aversão ao som do despertador matinal, a caminhada inglória para o serviço, o trabalho tão desgastante como desadequado, e o regresso agridoce para casa, porque afinal de contas amanhã é novo dia de trabalho.

Mas para grandes males, grandes remédios. Fazer o que ainda não foi feito. Agir por gosto. Aceitar desafios. Inovar. Mudar. Quebrar rotinas. Sair da zona de conforto. Enfrentar o risco, mesmo que o risco seja apenas só uma forma de contrariar o medo. E abolirmos a sexta-feira, porque todos os dias são dias de desafios pessoais e profissionais prazerosos.

P.S.: Todos temos o direito de errar. Mas os erros são nossos porque assumimos as nossas opções. Infelizmente também temos que aceitar as opções dos outros que continuam a empurrrar-nos para opções que não são nossas. Errados! Esquecem-se que as necessidades individuais são muitas vezes diferentes das necessidades institucionais. E então aceitamos, porque felizmente existe a sexta-feira.

(Imagem: http://claudiof1.blogspot.com/2011/04/calendario-f-3-inglesa-2011.html)
(Música: Quinta do Bill - De segunda a sexta-feira)

6 comentários:

Moi disse...

Tenho q dizer-te que pertenço à fatia da minoria, porque para mim, é tudo relativo às circunstâncias... eu até já dei pulos de contente pelo fim de semana ter acabado e ser segunda-feira.

Mas ri-me com este teu texto transcrito aqui... (tks pelos sorrisos)


Beijocas
:))

Carolina Louback disse...

O meu problema atual se dá as quintas, e consiste no grande deslocamento que preciso fazer, Rio-São Paulo, é ¨brabo.¨

Beijinhos e uma semana repleta de dias bons :)

Vivemos o que aprendemos disse...

Conclusão... ninguem gosta de nenhum dia lol

Eli disse...

«Enfrentar o risco, mesmo que o risco seja apenas só uma forma de contrariar o medo.»

Só?

Até me admiro que tenhas lido isso, pois o medo pesa e pesa (não falo de mim, claro).

Sempre detestei as pessoas que se fartam de sofrer ao Domingo por pensar na Segunda-feira. É uma estupidez! Só faltava este pormenor, agora posso ir descansar, pois a minha vida não tem parado de ser descanso!

ahaha

:P

ANNUNCIATA disse...

Portugal, país trabalhador e de afinco, mas que tem no adn ser o eterno conformados com o nosso sofrimento. Não é à toa que nos consideram cinzentos, sem arrojo. Como disseste, falta-nos inovar, "fazer o que não foi feito", aceitar que mais vale produzir por gosto, do que arrancar trabalho, só porque sim, porque tem que ser, sem convicção, mas por obrigação.
Andamos ao sabor das grandes instituições que nos transportam...e estamos em grave e iminente risco de afundar...
E amanhã é (ainda bem) mais uma vez 2ªfeira!

EC disse...

Subscrevo o teu post! Porque raio somos tão desmoralizadores e não aproveitamos cada dia em quanto andamos por cá?? bjs :)