Pedro Abrunhosa
Eu não sei quem te perdeu
Quando veio,
Mostrou-me as mãos vazias,
As mãos como os meus dias,
Tão leves e banais.
E pediu-me
Que lhe levasse o medo,
Eu disse-lhe um segredo:
"Não partas nunca mais".
E dançou,
Rodou no chão molhado,
Num beijo apertado
De barco contra o cais.
E uma asa voa
A cada beijo teu,
Esta noite
Sou dono do céu,
E eu não sei quem te perdeu.
Abraçou-me
Como se abraça o tempo,
A vida num momento
Em gestos nunca iguais.
E parou,
Cantou contra o meu peito,
Num beijo imperfeito
Roubado nos umbrais.
E partiu,
Sem me dizer o nome,
Levando-me o perfume
De tantas noites mais.
E uma asa voa
A cada beijo teu,
Esta noite
Sou dono do céu,
E eu não sei quem te perdeu.
Após uma noite das bruxas sensaborona, celebrou-se hoje o Dia de Todos os Santos, enchendo-se o cemitério de pessoas que recordaram os seus entes queridos já falecidos, em gestos a roçar o consumismo exacerbado, aproveitando os comerciantes de flores e velas para facturarem.
Nunca fui um frequentador assíduo dos cemitérios onde jazem os meus falecidos familiares, em pequeno acompanhava mais a minha mãe colocando um botão de rosa ou acendendo uma vela, no entanto esse hábito foi-se perdendo, ganhando no entanto uma maior consciência da importância dessas pessoas na minha vida. Acredito que peco por esta ausência, mas a crença nesta proximidade torna-se progressivamente maior, sentindo um apoio invisível que me tem sustentado durante estes anos de imensos desafios, como se mensageiros celestes da palavra de DEUS se tratassem, iluminando o meu caminho como os meus Anjos da Guarda Celestes.
Numa época especial em que a homenagem aos finados tem de ser complementada nos restantes dias, gostaria de deixar aqui a minha, e nada mais talhado do que esta letra de autoria de Pedro Abrunhosa, um dos génios da música nacional na arte da composição, criando num momento de grande iluminação a melhor letra e música de todos os tempos, na minha opinião. Uma letra que me faz recordar as pessoas que um dia mostraram as suas mãos para prestarem o seu apreço e carinho, fizeram dos seus braços a união e deixaram a sua marca no meu coração, mesmo que alguns deles nunca tenham partilhado a sua presença física comigo ou tenham partilhado numa altura inconsciente da minha vida.
Às vezes, quando fecho os olhos ainda sinto as vozes meigas, os sorrisos doces, e as brincadeiras envolventes das pessoas responsáveis pelo meu sorriso e motivação diária, por isso o meu eterno agradecimento por tudo o que têm feito por mim...
A vela já está acesa, retribuindo a luz que tem iluminado o meu caminho, porque eu não sei quem vos perdeu...
7 comentários:
A perda de alguém para sempre representa a total alienação do ser humano... deixar de ser o k é por não ter connosco uma pessoa significativa, um alicerce da nossa edificação, deve ser a dor mais intensa que podemos experimentar.
Por isso, há que valorizar a vida, cada momento que passamos com as pessoas e aproveitar para dizer-lhes HOJE o quanto as amamos, em palavras ou actos. Porque Amanhã poderá já ser tarde...
Beijinhos amigo, still the best! ;)
"...há que valorizar a vida, cada momento que passamos com as pessoas e aproveitar para dizer-lhes HOJE o quanto as amamos, em palavras ou actos. Porque Amanhã poderá já ser tarde..."
Apontaste aqui uma das falhas humanas que me angustiam, por vezes, nos dias de hoje...O elogio é um gesto mais pesado que a crítica destrutiva e por isso há uma maior flexibilidade em apontar o dedo do que em enaltecer a(s) qualidade(s). E depois acabamos por assitir a actos hipócritas nas cerimónias fúnebres, ouvindo-se falar do falecido como alguém muito bondoso, quando na vida real era muitas vezes apelidado pela negativa...
Isto entristece-me e por isso faço o apelo para as pessoas não terem receio de elogiar, usem do elogio tantas ou mais vezes que a crítica CONSTRUTIVA, porque só assim é que podemos dar um pouco de nós fazendo o bem enquanto isso é possivel...
Elogiem, elogiem e elogiem:)
Gonçalo
Lindo, Lindo, Lindo… Simplesmente fantástico este teu texto! Adoro este teu jeitinho de associação das coisas, dos acontecimentos com os bens concretos que vamos tendo como a musica.
Tal como tu, este viciozinho ou hábito de me deslocar até ao cemitério também em mim se tem perdido. Ma hoje sinto-me cada vez mais perto das pessoas que fisicamente já perdi… sinto que as tenho cada vez mais presentes na minha vida. E tal como tu disseste sinto “um apoio invisível que me tem sustentado durante estes anos de imensos desafios, como se mensageiros celestes da palavra de DEUS se tratassem, iluminando o meu caminho como os meus Anjos da Guarda Celestes”. Sem dúvida…
Mais uma vez concordo contigo quando te referes á letra que apresentas como uma das mais belas músicas de todos os tempos. Para mim, esta é mesmo a melhor letra que alguma vez vi. Pedro Abrunhosa tem a capacidade de nos deliciar momento a momento com obras destas em que noto todo o seu brilho. Quando escuto esta música sou invadida por visões precisas do que numeraste. Também eu recordo “as pessoas que um dia mostraram as suas mãos para prestarem o seu apreço e carinho, fizeram dos seus braços a união e deixaram a sua marca no meu coração, mesmo que alguns deles nunca tenham partilhado a sua presença física comigo ou tenham partilhado numa altura inconsciente da minha vida”.
Continuemos a ser o brilhozinho dos dias de cada uma das pessoas que nos ama…;)
Beijinho grande Amigo… Também tu brilhas muito nos meus dias…;) e brilharás SEMPRE!
Gon, sei que já devia ter feito este comentário, mas para mim não me é muito fácil faze-lo, por isso optei por deixar passar mais algum tempo.
Sim é tempo de acendermos uma vela pelos nossos entes queridos que já não se encontram entre nós.
Como deves saber o dia 1 de Novembro não é bem o dia em que as pessoas que partiram devem ser recordadas, pois esse dia é sim feriado celebra-se o dia de todos os Santos, o dia 2 de Novembro, esse sim é dedicado aos que terminaram a viagem da vida.
O facto de o dia 1 ser feriado faz com que as pessoas aproveitem para ir aos cemitérios por a tal velinha aos seus familiares e amigos que já partiram.
Só que há algo que sempre me revolta um pouco é ver que algumas sepulturas durante o ano poucas ou ate nenhumas vezes se vê lá alguém, a por uma flor que seja, não que eu queira julgar nig, sei que até há pessoas que não dão grande importância em visitar as sepulturas, não querendo dizer por isso que não recordem quem perderam.
Acontece muitas vezes eu perguntar-me a mim própria: será por vaidade, mas para quê? Se naquele lugar onde existe uma paz explicável, onde se chora silenciosamente a dor de deixarmos lá quem fez parte da nossa vida… não seria preciso tanto luxo num só dia, mas talvez, mais vezes no ano se devesse acender uma vela ,pois ela representa a luz, para quem acredita essa luz pode ajudá-los a alcançar o esplendor da luz perpétua.
Significando essa luz, também que nunca os esqueceremos, pois estarão para sempre no nosso coração.
Por isso Gon não esperes pelos fies para por uma velinha a algum ente querido que já tenha partido, fá-lo sempre que o teu coração mandar.
Beijinhos
Minha querida Margarida:
- agradeço o teu esforço por comentares acerca de um tema muito sensível para ti
- dia 2 de Novembro é o dia dos finados, também tenho essa ideia, mas julgo que é no dia 1 de Novembro que mais pessoas acorrem aos cemitérios na visita aos seus finados, pelo menos na minha paróquia é assim;
- de facto há muito consumismo neste dia, mas eu encaro cada dia como um dia de recordação aos meus finados entes queridos, e cada dia para mim, tem de ser encarado como um dia em que a vela tem de estar acesa, porque é também a vela que eles carregam que eu acredito que ilumine o meu caminho.
Beijinhos e fica bem.
Gonçalo
Estupefacta.
O último comentário que te fiz tem o link para esta música que ouvia ao mesmo tempo que me aparece este post com a sua letra...
Evistei comentar tudo o que lia, escolhendo apenas alguns posts, mas não poderia deixar passar este em vão.
Deixa-me dizer-te que esta descoberta, à qual ontem chamaste "ginástica" está a ser imensamente maravilhosa.
Obrigada.
:)
A ginástica é mútua porque fazes-me recordar textos do meu passado e como é bom recordar e viver!:)
Vou-te revelar uma coisa: é muito bom chegar a casa depois de fazer 16 horas de trabalho seguidas, das 16h de ontem ás 8h de hoje, e conseguir sorrir para as tuas palavras:) Obrigado!
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