quinta-feira, 20 de julho de 2006

A Lei do Amor II


“Ás vezes há que violentar a matéria para que se apresente a sua formusura. É à base de golpes de cinzel que um pedaço de mármore se converte numa obra-prima. Há que saber bater sem piedade, sem remorsos, sem medo de deitar fora os pedaços de pedra que impedem que a peça mostre o seu esplendor. Saber produzir uma obra de arte é saber tirar o que estorva. A criação utiliza o mesmo processo. No ventre materno, as próprias células sabem pôr-se de lado, suicidam-se para que outras existam. Para que o lábio superior se possa separar do lábio inferior, tiveram de morrer as milhares de células que os uniam. Se não fosse assim, como poderia o homem falar, cantar, comer, beijar, suspirar de amor? Infelizmente, a alma não tem a mesma sabedoria que as células. É um diamante em bruto que, para ficar polido, precisa das pancadas que o sofrimento proporciona.” Laura Esquivel In A Lei do Amor


Sofrimento...dor...solidão...angústia...infelicidade...Palavras carregadas de intensa carga negativa, palavras que por si só nos transportam para um lugar longínquo do passado, fazendo-nos estremecer ao sentir o seu verdadeiro significado....
O texto anterior apresenta-as como o martelo e o escropo que a alma precisa para ser aperfeiçoada, como um meio necessário para a evolução humana, de forma a que a criação se desenvolva tanto física como espiritualmente...Se a criação física já possui os mecanismos necessários para crescer e desenvolver-se, a evolução espiritual exige uma aprendizagem auto-didacta, em que as maiores machadadas trespassadas pela alma proporcionam a abertura para um crescimento mais sustentado e sólido...Tal como as células que se põem de lado para que a criação física possa beijar, expressar, sentir e amar, as machadadas permitirão o aperfeiçoamento da alma, lembrando-nos que a vida é um caminho com montes e vales, e que são os vales que valorizam a chegada aos montes...
Infelizmente, o sofrimento nunca será benvindo, mas se for aceite com maior naturalidade e com um propósito favorável, de certeza que será melhor compreendido e nos colocará mais próximos do que desejamos...

1 comentário:

Sofia Cunha disse...

Pois é Gonçalo… talvez tenha demorado mais tempo a comentar este teu texto pelo facto de o mesmo exigir de mim uma profunda reflexão… depois de varias leituras que fiz do mesmo penso estar em condições de poder dizer-te que este texto reflecte muito daquilo que muito verdadeiramente “exijo” como espécie de ideal. Quando o li recordei uma obra de Platão, que tive oportunidade de estudar e aprofundar no meu 11º ano na disciplina de Filosofia … Platão apresentava a alma e o corpo como uma espécie de confronto vital, (é tão bom recordar) …
Todos os conceitos menos positivos tais como os que apresentaste tem a capacidade de em nós despertar uma espécie de luta constante para que nós mesmos tenhamos a capacidade de diariamente os conseguirmos vencer. E é, sem dúvida, nesta luta constante que os resultados se obterão. Será deles que surgirá uma possível purificação da nossa mesma alma. Paritndo do sentido e do valor que estes mesmos conceitos possuem podemos descobrir aquilo que muito verdadeiramente existe para lá das sugestões mais simbólicas e carregadas de valorização positiva, mas é certamente passando por cima destas descargas negativas que venceremos e que saberemos dar valor ao que se nos apresenta, mesmo que por vezes nos parece ser simplesmente um nada….
Penso muito importante reflectir sobre esta visão que também eu partilho contigo, pois será das forças do pensamento que surgirão novos confrontos e novas visões de um mundo de almas em evolução constante sem pausas e de momentos de partilha simbólica ou não mas que passando pela nossa alma…certamente deixarão pegadas…
Continua lindo…
Parabéns por mais uma bela reflexão…
Beijinhos…;) …da tua amiga..;)…