Concordo com os motivos da greve. Discordo com o período de tempo da greve.
Estou cansado de ser desvalorizado constantemente numa profissão tão meritória como irreconhecida. Horas e horas de dedicação e amor pela saúde e bem-estar da pessoa, desafios de responsabilidade e controlo interno e externo no seu máximo, dias intensos com situações extremas, noites em branco com um desgaste tremendo e por vezes revoltante, para no final recebermos tostões e reclamações no bolso. Bem sei que há sorrisos cúmplices e gratos, mas por vezes são curtos demais para a frustração que sentimos.
Anos e anos sem reconhecimento remuneratório, o salário de um licenciado continua a ser uma miragem e agora cada vez mais. Afinal de contas a proposta passa por ganhar 40 horas por semana com o mesmo ordenado, o que equivale a uma diminuição de preço por hora. O reconhecimento pelas horas complementares é cada vez menor. Milhares de enfermeiros especialistas continuam à espera de exercer para as funções que investiram pessoal e monetariamente. Os doentes agradeciam. Desemprego é uma bomba em expansão, desta vez já com um ruído ensurdecedor e sem o silêncio anunciado em 2006. Dos jovens enfermeiros recrutados, são miseráveis os valores auferidos em relação ao trabalho prestado. Enfermagem é uma profissão de amor, mas amor também é uma questão de justiça e os melhores terão que ser devidamente recompensados.
Dois dias de greve é pouco. Continuo a achar que somos macios demais para as pretensões que queremos. Isto são cócegas para o Governo. Dois dias passarão e o Governo será a caravana que passa perante cães que ladram mas não mordem. Após estes dois dias, os cestos serão lavados e a normalidade regressará como se nada se tivesse passado. Para mim a solução seria greve por tempo indeterminado. Para além de ser uma solução de força com reflexos claros na saúde da população, seria um motivo indirecto para relevar os valores da união e da solidariedade entre os colegas de profissão, ao fim de contas, o verdadeiro motivo para a solução dos problemas em geral.
De qualquer das maneiras, mesmo estando de férias, esta greve também é minha, agradecendo aos milhares de enfermeiros que nestes dois dias estarão a representar a sua e a vontade de outros colegas que podem ou não mostrar a sua insatisfação. Uma palavra especial aos grevistas que cumprem os serviços mínimos, pois muitas vezes cumprem na mesma serviços penosos mas que continuam a assinar a sua insatisfação perante si e os outros. Um bem-haja à Enfermagem!
5 comentários:
Completamente de acordo.
Não sou enfermeira, mas respeito muito os enfermeiros, até mais do que respeito os médicos. No dia em que precisei de cuidados urgentes fui bem tratada pelos enfermeiros, olharam para mim como pessoa que sou e não como mais um doente a tratar.
Bem haja aos enfermeiros :)
E quem fala assim é um enfermeiro de corpo e alma.
É realmente triste esta falta de reconhecimento pelos muitos enfermeiros que zelam pela nossa saúde e bem estar.
Mantenham-se unidos e mostrem o que valem realmente!
E.. Continuação de boas férias!
Caro Gongas,
eu, licenciada em enfermagem mas com o diploma na gaveta e a cédula congelada só posso dizer que na classe de Enfermagem falta algo que precisa de ter para que as coisas possam melhorar: mediatismo.
Se as manifestações fossem tão mediaticas como a dos professores, assim como as greves que causam uma verdadeira paralisação, provavelmente os media e a nação em geral veriam os enfermeiros com outros olhos.
Mas continuo a ver os enfermeiros como muito humildes, que aceitam as merdas calados com medo de represálias e à espera do "vão sem mim que eu vou lá ter" como cantam os Deolinda.
Com este tipo de filosofia, esquece meu caro, as coisas vão piorar ainda mais, infelizmente...
Alima...
Uma área tão nobre, tão necessaria. Isto já é ridicularizar quem se dedica ao próximo.
A Saúde por cá anda um caos. Acho que a greve é legítima e uma forma de pressionar para se obter melhorias.
Beijos
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