quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Acrescenta-me um Ponto: Suspense - resultado final


Está concluída mais uma rubrica "Acrescenta-me um Ponto", desta vez relativa ao tema Suspense. Um conto com uma diversidade cultural e criativa própria de vários co-autores e ao mesmo tempo com um fio condutor tão impressionante como desafiante. A história tem um fio sempre imprevisível e recheado da personalidade de cada co-autor, sem perder o sentido da trama. Há detalhes que podiam ser melhor explicados, mas a intenção não é apenas essa. O importante está conseguido, o destaque do imenso valor de uma criação em conjunto de uma história única. Juntos somos muito mais fortes. Continuemos a criar em conjunto, em qualquer momento! Obrigada pela vossa participação e boa leitura.


Lista de participantes:

1 -   Gonçalo Cardoso (O Sabor da Palavra) 
2 -   Buxexinhas (Pedacinhos de Mim)
3 -    Karochinha (O Meu Eu)
4 -    A Minha Essência (Roupa Prática)
5 -   Olívia Palito (Olívia no País das Maravilhas)
6 -   L' Enfant Terrible (L' Enfant Terrible Lx)
7 -   Utena (Os Meus Idealismos)
8 -   Alexandra Martinho (Ouso escrever)
9 -   AC (Nada de Coisa Nenhuma)
10-  Poppy (Apontamentos de Luz)
11-  Briseis (O Meu Pedestal)
12-  Teté (Quiproquó)
13-  Vítor (O Predatado) 
14-  Rogério Pereira (Conversa Avinagrada)
15-  Lídia Borges (Searas de Versos) 
16-  Maria João Martins (Pequenos Detalhes)
17-  Filoxera (Escrito a Quente)
18-  Alex (O Meu Sofá Amarelo)
19-  Marta Vinhais (Com Amor)
20-  Luz (Luzes e Luares)


E tudo começa, assim...


" Já tinha dobrado as duas da manhã. Estava a sair da emissão de rádio, incomodado com um ouvinte que alegava a minha falta de isenção jornalística. Segundo ele, apenas dava voz aos ouvintes do sexo feminino e os temas escolhidos revelavam uma tremenda homofobia. Estapafúrdio, dizia para mim! Mas, para o exterior resolvi o problema com a introdução de uma música de intervenção social. E assim, fechei o programa. Peguei na mala, desci as escadas em direcção ao parque subterrâneo e ao chegar junto do carro encontrei um segredo envenenado..."

" No seu vestido vermelho delineado na pele, ela olhava-me intensamente, recostada no capô do meu carro, como um lince que espera a sua presa. Por momentos, o meu coração parou de bater. "Voltou"... pensei angustiadamente. Fantasmas do passado e segredos escondidos no recanto mais negro do meu ser...renascidos da minha cinza. Em passos lentos, dirigi-me a ela. As palavras silenciosas do meu olhar, disseram-me para onde ela me levaria. Entrámos no carro seguindo para o local temido..."

"por ambos.
Aquela falésia onde, alguns anos antes, a tragédia se abatera sobre as suas vidas alterou os seus futuros para sempre. E todos os anos, no mesmo dia, encontravam-se antes do amanhecer, naquele pedaço de rocha que se erguia sobre o mar, numa esperança vã de expiarem os seus pecados mais profundos. Chegados ao local, saíram do carro e mais uma vez, as suas mãos encontraram-se, os seus corpos aproximaram-se e ela disse-lhe..." 

"Com a voz trémula, sussurrada, gélida, com a postura hirta e conciente do momento, Amanda  começa a debitar desenfreadamente como tudo aconteceu, naquela fatídica noite.
- "Não tive culpa! Não tive! Acredita em mim, por favor! Foi um incidente. Foi ele que escorregou da falésia, ele"! - Sedutora, mas ao mesmo tempo frágil, ela sabia exatamente como emaranhar um homem na sua teia. Sabia exatamente a palavra certa a ser usada, o gesto proveniente, o olhar mais assertivo para a ocasião. Manhosa, lança-o num envolvente abraço onde o choro compulsivo é senhor do momento. Entre soluços, mas com a voz doce, repete, incessantemente, "não fui eu"! Não fui eu"! Com o rosto apoiado no peito de Edmundo, via-se claramente o sorriso dissimulado que fazia. Ele, estava completamente rendido à fragilidade dela, mas, ao contrário do que ela pensava, que o tinha nas mãos, Edmundo, também tinha algo a dizer..."

"acerca daquela fatídica noite. Edmundo fixou o olhar na falésia e ficou em silêncio por alguns segundos, enquanto os braços de Amanda o envolviam. De repente, ficou tudo absolutamente claro na cabeça de Edmundo, as peças do Puzzle mental começavam a encaixar-se na perfeição. Lembrou-se da conversa off record que tivera com o inspector da polícia acerca do relatório da autópsia de Fred. Segundo o mesmo relatório, Fred havia ingerido uma dose substancial de whisky, confirmando assim o álibi de Amanda, de que Fred se desequilibrara e caíra daquela falésia. Porém, fez-se luz e um pormenor fulcral escapara a ambos:ao inspector da polícia e a Amanda, mas não a Edmundo..."

"Isto porque Fred não bebia whisky, sofria de doença celíaca, de modo que tudo o que contivesse glúten, o que incluía bebidas feitas de malte, não lhe passavam pela garganta. Por outro lado, a revelação que Fred fizera a Edmundo um dia antes da tragédia era de todo desconcertante, tanto mais que dizia respeito aos três, sendo que o conteúdo da mesma tivera desde então um profundo impacto em Edmundo, ao ponto de o mesmo perder parte da sua imparcialidade jornalística. Ainda assim, envolto no choro soluçado de Amanda, Edmundo era incapaz de proferir uma palavra, de partilhar com ela o que pensava, porque havia mais um elemento no jogo, uma dúvida perene que o levava a sentir-se tal como o mar revolto e sem definição, que vislumbrava no horizonte..."

"Não querendo, mas ao mesmo tempo sem conseguir parar a maré das lembranças, chegou-lhe à memória aquela noite, que hoje lhe dava o conhecimento do facto de Fred não beber whisky. Fred confessou-lhe num ousado momento de coragem que se sentia atraído por Edmundo e que isso o deixava sem saber como agir, pois nunca tinha sentido isso por um homem nenhum, já que sempre fora um mulherengo, por natureza! A convivência dos dois, muito por culpa de Amanda, o lamber das feridas causadas por esta mulher de escrúpulos nulos, tinha feito com que os sentimentos florescessem em dois homens, que mesmo nada indicando que assim fosse os levou a sentir o que para ambos deveria ser tabu. Edmundo voltou à realidade com um soluço mais audível de Amanda e quando a olhava no profundo dos seus olhos verdes deu-se conta..." 

"Do quanto aquela mulher já havia  sofrido. Fred, horas antes de falecer, havia contado a Edmundo que Amanda aos 20 anos se havia submetido a uma cirurgia de retribuição sexual. Sim, Amanda fora um menino em outros tempos, mas hoje era aquilo a que Fred e Edmundo chamavam de tentação. Edmundo olhava-a e um misto de sentimentos lhe assolavam a mente, perdera alguém que lhe era muito próximo, um amigo, mas também, um silencioso admirador. E ali, diante dos seus olhos estava a  mulher indefesa e esbelta, que soluçava e por quem ele era estupidamente apaixonado, mas que carregava tão pesado segredo. Segredo esse, que toda a sociedade condenava e condena. Edmundo, perturbado, necessitava voltar, ir ao encontro do seu pedaço de chão para meditar e montar todo aquele puzzle confuso. Suplicou-lhe: - "Amanda, necessito ir, vamos?". Amanda, para ele olhou, com o olhar fugaz e disse..."

"És um homem cruel, senão me aceitas como sou. E se assim for, sem dúvida que não me mereces. Sou especial, sou única, e estou disponível para te amar, com tudo o que tenho para te oferecer, mas jamais partilharia a minha vida ou o meu corpo com quem olhasse para para mim com desprezo ou nojo. Sendo assim, cuida-te, olha para ti, observa-te com atenção e vais reparar em todos os teus defeitos... por agora, vou apenas embrulhar-me no teu casaco, sentir o teu cheiro e o teu calor, que são presença nele e esperar que tu abras os olhos e possas ver para além do físico, do estereotipo e do preconceito, a mulher que hoje sou...estou aqui, estarei sempre aqui para ti...de braços abertos...anda, decide-te, não tenho o tempo todo..." 

"Mas na cabeça de Edmundo, cada vez mais as dúvidas e as desconfianças se instalavam. Havia demasiadas incongruências em torno daquela noite e um relatório conivente com o que Amanda lhe dizia, mas contrário ao que conhecia de Fred, que jamais poderia ter bebido whisky naquela noite. Não estavam em causa os desejos que nutria por aquela mulher, não se colocava em questão a mudança de sexo, o que lhe assolapava as ideias era tão somente o que teria sido capaz de fazer aquela mulher de escrúpulos nulos, de vermelho vestida, se soubesse o que acontecera entre eles. Não foi capaz de lhe dizer nada mais. Levou-a a casa e naquele momento só uma coisa lhe ocorria, tinha de estar com o inspector responsável pela investigação..."

"O encontro perturbador , aliado ao adiantado da hora, tinha um efeito nefasto sobre a sua lucidez. Conduzia como um autónomo, a cabeça longe, muito longe da estrada, por onde os olhos passavam. Era de noite, ainda. Para não enlouquecer durante as longas horas, que antecediam a manhã e a sua oportunidade de falar com o inspector, foi para casa, tomou um banho tão quente quanto conseguiu tolerar e, ainda com o cabelo a pingar água e a pele a fumegar vapor, sentou-se a escrever a sua versão dos factos, a sua memória dos acontecimentos, caso algo lhe acontecesse... Escreveu tudo longamente, e concluiu com a revelação do facto mais bem guardado..."

"Fred confessara-lhe o ciúme que sentia de Amanda! Sem nunca lhe ter revelado, adivinhara a paixão e o desejo que transpareciam nos olhos, quando ela aparecia em cena, naquele misto de sedução e de fragilidade que tanto o cativavam. Parou de escrever. E se...? Não, não era possível, que o amigo chegasse tão longe... Ele andava pertrurbado - os credores avolumavam-se à sua porta! - mas suicidar-se?!? Deixando no ar a suspeita de Amanda ser a culpada pela sua morte?!? Mas porquê aquelas revelações súbitas e inesperadas, poucas horas antes daquela fatídica noite? Era um plano macabro de mais para ser verdade..."

"Levantou-se, abriu as janelas de par em par e, debruçado sobre o parapeito, olhou as estrelas. Voltou para dentro, apenas o tempo suficiente para apagar a luz. Não houve luar e assim o céu ficava mais bonito. Acendeu um cigarro, deu-lhe duas baforadas e voltou a contemplar as estrelas. Com Amanda e Fred na cabeça, ia falando consigo próprio. Aos poucos foi-se descontraindo no fumo do cigarro, na tentativa de ainda se lembrar do nome das constelações. Aquela é a Ursa Maior, aquela é a Cassiopeia, aquela é o Cão Maior. Raios! Porque não se lembrou antes disso? Fez um telefonema para Irina. Ela costumava ficar com o cão de Fred quando este se ausentava..."

"A visita a casa de Irina foi demorada e difícil para ambos. A conversa parecia não ter nexo, com Irina a tentar explicar o inexplicável de aquela carta de Fred só passados três anos aparecer. Irina estendera-lhe com as mãos nervosas e foi com as mãos nervosas que Edmundo a recebera. Despediram-se com o luto nos olhos e sem uma palavra. Na rua e, depois, pelo caminho leu e releu o texto do sobrescrito cuja letra lhe era familiar. Em casa, levou um tempo tremendo até vencer o medo e abrir a carta que lhe era dirigida: Meu querido amigo, quando leres estas linhas já terei partido. Não vos julgo nem culpo. E a haver culpados, culpo a indignidade que me foi dada por uma vida que já não merece ser vivida. Não há uma só situação a explicar este meu acto, que muitos considerarão tresloucado. Foi tudo. Foi a minha incapacidade de vos amar. Foi a minha confusa sexualidade. Foram as dívidas acumuladas. Foi o desemprego e a incapacidade de encontrar alternativas. Foi a minha marginalização no partido. Foi tudo isso e ainda..."

"Fez uma pausa na leitura para macerar uma lágrima teimosa e acalmar o lamento que se contorcia no seu coração, agora que a tese do suicídio lhe parecia ganhar consistência. Pobre Fred! - pensava - Como fora possível ter chegado a tal estado de desespero sem que ele, seu amigo íntimo, se tivesse apercebido? O mundo está inquinado de indiferença. O mundo, o mundo...Mas que mundo? As pessoas são o mundo, o mundo é as pessoas e, cada uma delas, um fragmentado fraco de um todo forte, mas incompreensivelmente ignorado.
Edmundo deixou cair os olhos húmidos sobre a folha de papel que lhe ficara esquecida nas mãos e continuou a ler:
Foi tudo isso e ainda alguma coisa inominável e paralisante. Algo que não me permite lutar contra o medo. O medo da solidão, o medo de ver, de vislumbrar mais uma manhã sem esperança nem projectos...
O longo e estridente "trimmm" da campainha que subitamente encheu a casa, fê-lo estremecer. Pousou a carta na estante, entre os livros e dirigiu-se para a porta sem disfarçar um gesto de desagrado..."

"Ao abrir a porta não conseguiu disfarçar o espanto. "O Senhor aqui, Inspector Madureira?" - O inspector reparou no semblante cansado e transtornado daquele homem que lhe franqueava a entrada. "Bom dia, Edmundo! Não se assuste, estou aqui no seguimento da investigação da morte de Fred Campos, ou melhor, do homicídio do seu amigo. Temos razões para acreditar que o senhor, neste momento, corre risco de vida." - Edmundo sentiu-se perdido no meio de tantas dúvidas e revelações. Tudo lhe parecia cada vez mais confuso e surreal. "Não, não, inspector! Fred suicidou-se. Tenho aqui a carta que o comprova" - e dito isto, foi buscar a carta que tinha pousado na estante e que não acabara de ler. Madureira agarrou nela com curiosidade e leu-a demoradamente. "Onde estava esta carta?" - perguntou. Edmundo explicou-lhe como Irina a tinha encontrado, só agora, deixada por Fred dentro de um livro que ela lhe havia emprestado. "Está a ver, Fred queria suicidar-se..." "Pois queria..." anuiu o inspector."... mas temo que isso não tenha chegado a acontecer, meu amigo. Há detalhes da investigação que você desconhece e esta carta pode explicar muita coisa. Venha comigo até à Judiciária, vou precisar de si!"...

"A viagem decorreu entre pensamentos elípticos. Por muito que a memória desse voltas e mais voltas, estas iam sempre ter a duas questões: o ciúme de Fred em relação a Edmundo e Amanda e a carta de suicídio. Ou não?... Se há um momento na vida em que nos censuramos a nós mesmos, o de Edmundo foi esse preciso momento em que se deu conta que, por muito afecto que nutrisse por Fred, por muita intimidade que tenham partilhado, Edmundo não conseguia lembrar-se da caligrafia de Fred ou, sequer, se alguma vez a conhecera. Como era possível prezar alguém da forma que ele prezara Fred, que fazia com que um pouco de si tivesse morrido com ele, e não saber, sequer, se alguma vez conhecera a sua letra? Rapidamente teve de voltar ao presente, pois o velho Peugeot 306 acabava o seu percurso, junto às instalações da Judiciária..."

"E nas instalações da Judiciária, Edmundo foi confrontado com uma cópia da carta de "suicídio" de Fred. Aliás, com várias cópias. Era preciso descortinar qual era a original, mas isso era fácil para os analistas da Judiciária. Rapidamente chegaram à conclusão que a carta tinha sido escrita por... Edmundo! Mas, se a carta estava na posse de Edmundo, como teria sido possível multiplicar-se de tal maneira que apareceu nas mãos de várias pessoas ligadas ao processo? Quem era afinal o assassino? Teria sido mesmo suicídio e Fred ter-se-ia preocupado em "despistar" o seu próprio suicídio enviando cartas iguais para várias pessoas? O drama adensava-se quando..."

"O inspector Madureira voltou a entrar na sala e perguntou: "Então, o que me diz?" E Edmundo ficou sem saber o que responder... Não entendia nada; a letra era a sua, de facto. A não ser que Fred a tivesse imitado... Só podia ser isso e foi o que tentou explicar ao inspector Madureira, que abanou a cabeça e disse: "Não, meu amigo, os analistas confirmam que a letra é sua!"...

" É neste preciso momento que Amanda entra, de rompante, na sala. Deslumbrante, segura, ousada, determinada, vestida de vermelho, aproximando-se como "felino manso" de Edmundo e do Inspector.
Senta-se num cruzar de pernas, melhor que o de Sharon Stone e afirma: - "Fui eu quem matou Fred, empurrando-o para que caísse da falésia, com receio da concretização do sentimento, já  existente entre eles. Fui eu que falsifiquei todas as cartas, melhor talvez, que Alves dos Reis fez com o dinheiro. Usei estratégias e métodos, que considero arrojados, hábeis e inteligentes e que revelarei à polícia, caso me seja pedido.
Inspector, tem aqui as minhas mãos, para que as possa prender, com as argolas do "amor", assim as considero e lhes chamo. Quero apenas pedir-lhe que seja satisfeita a minha última vontade, o que foi aceite pelos  elementos presentes da Judiciária, com um aceno de cabeça.
Aproximou-se de Edmundo, envolveu-o nos seus braços ternamente, e beijou-lhe a boca, de forma lânguida, longa e arrebatadora.
Um dia, serás só meu. Um dia, serei só tua. Amo-te! "

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Entrevista a Bloguistas: Raven

A entrevista decorreu esta manhã e estará muito em breve disponível para todos. Preparam-se porque a Raven joga ao ataque! Até breve!

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A moda das reclamações!

Vivemos uma época de problemas mal resolvidos, frustrações e incapacidade para controlar a ansiedade dos tempos troikianos. A expressão facial mudou, os dentes são cada vez mais amarelos, as olheiras adensam-se e as sobrancelhas caem sobre os olhos sob efeito da austeridade. Gritos e mais gritos, costas voltadas, cochichos sobre a vida alheia e a repudiante cultura do individualismo. Esta é a imagem de um país à beira de um ataque de nervos!

Integrada nesta cultura do pânico está a moda das reclamações. Elas reproduzem-se como coelhos. Agora cada vez que há um espirro há uma reclamação. Se o vizinho do último andar cheira mal dos pés, há uma reclamação. Se chover, reclama-se. Se faz sol, reclama-se na mesma. Não se sabe a quem e muito menos porquê, mas reclama-se!

Os enfermeiros não são excepção. Aliás, se há classe profissional mais apetecível são os enfermeiros. Trabalham em jornada contínua, cansam-se enquanto os outros descansam, salvam vidas como poucos, ocupam a função de dois ou mais colegas que continuam a emigrar exponencialmente, são a classe responsável pelos doentes mais tempo durante o dia e são submetidos a situações de risco em condições por vezes desumanas. O benefício é sempre superior ao prejuízo causado, mas à mínima nódoa serão rotulados de incompetentes e culpados! Uma injustiça tremenda que me aflige ainda mais do que qualquer injustiça. 

A acrescer a isto, ainda se assistem a situações de falta de comunicação e conclusões precipitadas dos reclamantes típico de um país de cegos, surdos e mudos. Não interessam esclarecimentos, interessa sangue, numa punhalada pelas costas sem dó nem piedade.

Felizmente, piedade é algo que tenho. Compreensão também, de forma a situar-me na realidade que tenho e adiar o sangue desejado. E a realidade que temos é um país de pouco amor e muito ódio e enquanto não invertermos esta tendência continuaremos a ser um país de tristes à procura da solução para os problemas da carteira. A austeridade económica chegou recentemente, mas foi apenas o reflexo da prolongada austeridade intelectual que grassa nas mentes de muitos portugueses.

Por fim, deixo uma sugestão. Em vez de reclamações, adiram à moda das gratificações. Um dia fiz uma por escrito, curiosamente no mesmo livro das reclamações (alguém sabia disto?), e posso-vos dizer que foi das noites em que dormi melhor. Obrigado pela atenção!

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Mundo Estático

Uma mesa desarrumada, uma bola ao poste, as nuvens no céu, e o sol que se esconde. Várias perguntas, respostas diversas, certezas nenhumas. O presente consegue ser ausente, o risco magoa, a marginalidade prevalece e o centralismo sofre. As buzinas ecoam, vozes ao fundo elevam o descontentamento e as lágrimas caem no asfalto. Cartazes, reuniões, portas fechadas e a palavra "Não!".

Uma paragem e um pensamento.

A respiração terapêutica e um suspiro de alívio. O amor existe e a chama surgirá numa noite de lua cheia. O trabalho dá trabalho mas há faces tão redondas como vincadas. E o mundo gira quando o homem quiser. Agitar o mundo antes de usar! Ser feliz!

Música: The Gift - La Terraza