sexta-feira, 12 de junho de 2009

Crónicas Mallorquinas

Reflexões redigidas entre um mergulho no mar e um olhar curioso para a silhueta da miúda do lado. Palma de Maiorca domina!

31-5-09
A primeira saída nocturna foi promissora. Num passeio pela marginal, a água do mar, mesmo à noite, denotava algo de diferente do que alguma vez tinha visto. A tranquilidade das águas e o verdadeiro verde marinho mostravam que estava mais perto daquilo que procurava! Holla Palma de Mallorca!

1-6-09
A piscina desperta de manhã completamente à sombra. Ao almoço espreguiça-se ao sol, chamado sol de pouca dura porque à tarde à sombra fica, tudo porque o edifício do hotel está construído em U com uma altura de dez andares. Para piorar a situação, sente-se um cheiro nauseabundo a fossa séptica, odor que se sente também noutros espaços da praia do Arenal. Primeiro ponto negativo!
As assimetrias negativas são o segundo ponto negativo! É verdadeiramente estranho assimilar uma proximidade tão grande entre edifícios enormes, ricos e luxuosos e habitações velhas, sujas e miseráveis. Mais estranho ainda será a indiferença sentida pelos seus habitantes perante turistas ricos e insensíveis, será como água para o azeite…


2-6-09
O Hotel encheu em pouco tempo, a recepção entupiu com tantas entradas e no restaurante a hora das refeições parecia a feira da Ladra…
Em comum, há muitos jovens casais com os seus primeiros filhos, ainda muito pequenos, desde bebés a crianças de quatro e cinco anos. Talvez tenham passado a Lua-de-Mel neste Hotel e regressaram por saberem que é um local muito acolhedor para os mais novos. Mas que raio de férias são estas? Acordar de manhã mais cedo para preparar as crianças, ir para a praia e/ou piscina e estar atento a qualquer pé em falso dos filhos, passar as refeições alternando entre dois pratos e, no final do dia, abdicar de momentos de descontracção e boa disposição para cuidar do descanso dos pequenos. Julgo ser uma questão de dependência muito grande, no entanto acredito que tudo passa por uma questão de prioridades e os momentos de liberdade da juventude são relegados para segundo plano por uma família feliz e fruto do amor. E, como dizia Fernando Pessoa, “o melhor do mundo são as crianças”…
Não sei se foi por esta razão, mas senti bastante individualismo neste grupo. Um dos motivos de paixão por viagens passa pelo conhecimento e convívio com o grupo de portugueses que nos acompanham, foi assim no ano passado na Tunísia, não foi assim este ano em Maiorca. O grupo na Tunísia era muito mais pequeno, propício a uma maior proximidade, no entanto foi confrangedor cruzar-me com as mesmas pessoas todos os dias, a várias horas do dia, e não sentir nenhuma abertura para conviver com outros além do seu núcleo familiar. Sentia mesmo que éramos indiferentes!

3-6-09
Acordei muito bem-disposto, tomei um pequeno-almoço reforçado como tem sido hábito esta semana e fui para a praia. Ontem tinha feito uma caminha à beira-mar até meio da praia, mas hoje decidi percorrer a extensão completa de 7km do areal da maravilhosa praia de L’Arenal. No fundo foram 14km de água límpida, areia fina sob os pés, brisa no rosto, crianças inocentes, homens depilados e mulheres em topless…

Estava a meio da semana e o serviço de restaurante do Hotel apresentava uma grande variedade de pratos, evitando repetição excessiva de ementas. E a qualidade das refeições era do melhor, com grande variedade de saladas, sobremesas e menus especiais para crianças. Nada mais pertinente dado o grande número de crianças que enchiam a sala, tornando-se, sem dúvida, um local impróprio para Miguel Sousa Tavares…
À noite senti uma dor ligeira no calcanhar direito quando fixava o pé no chão, e atribuí logo à caminhada matinal. Uma noite de repouso e tudo estaria impecável no dia seguinte…

4-6-09
Acordei de manhã e…ui…mal consegui colocar o pé direito no chão! As dores eram muito mais fortes e deixei de desfilar o meu andar extremamente sensual para coxear que nem um manco sem classe…
Na caminhada até à praia parecia que levava um sapato de salto alto invisível no meu pé direito, e senti um alívio quando encontrei o meu lugar ao sol para repousar. Mais tempo parado, mais tempo para mirar! De facto, um dos meus passatempos favoritos em férias é a observação do mundo que me rodeia, julgo que é mesmo uma observação automática e inconsciente e há sempre pessoas que me chamam à atenção diária e regularmente, principalmente do sexo feminino…
Desta vez não foi diferente e não fiquei indiferente à trintona, ruiva, de lábios grossos, aquilo a que costumo chamar “uma mulher maciça”! Não foi fácil desviar o olhar de varias mulheres com os seus filhos, às quais a gravidez não teria diminuído de certeza a sua elegância, antes pelo contrário…E aquele grupo de jovens de olhos grandes, sorrisos bonitos e cabelos longos? Hummm, parece-me que se o ambiente fosse outro, não teriam ficado sem par nos bailes realizados no Hotel…

5-6-09
A praia apresentava um sol magnífico e mulheres muito bonitas, com punhos delicados, joelhos torneados e tendões de Aquiles bem alongados…E quanto mais o tempo passara, mais me apercebia da grande quantidade de tatuagens para todos os gostos e feitios nos corpos desnudados de imensos portugueses, mesmo daqueles que não imaginaria…
Sinto que uma tatuagem seria uma violação da natureza do meu corpo, contudo se algum dia a fizer, será como um símbolo forte num dos meus tornozelos, tanto pelo gosto que tenho por este local no meu corpo, como pela visibilidade que proporcionaria…

No Arenal, a moda do comércio da bola de Berlim e da bolacha americana não existia, sendo substituída curiosamente pela venda de frutas frescas de Verão ao longo da praia. De Espanha nem bons ventos, nem bons casamentos, mas há modas que poderiam ser importadas para Portugal e esta seria uma delas! A bem da saúde de todos!
Ao almoço, a frase surgiu perante tamanha qualidade de vida. “ A vida devia ser sempre assim: tudo incluído!” Um bem-haja à pulseirinha da liberdade!

6-6-09
Último dia de férias, ainda a tempo de encontrar bandeira vermelha nas areias de Maiorca, e um mar com ondulação mais intensa. Apesar da nostalgia do último dia, foi o melhor dia no mar, juntando a temperatura agradável da água com a ligeira ondulação envolvente. Magnífico!

7-6-09
Adiós Palma de Mallorca! Hasta siempre! :)

Gerês: umas férias com pouco efeito!

As expectativas eram grandes, antes da partida. Expressões como “paraíso”, “beleza natural” e “sítio mais bonito de Portugal” foram proferidas por pessoas conhecedoras do Gerês, encantando-me ainda mais para a opção de férias escolhida.

Após um caminho atribulado de encontros e desencontros, curvas e contracurvas, deparei-me com um espaço montanhoso, verde e dividido pelo rio Cávado, ao qual a mão humana já colocaria uma barragem, a “Barragem da Caniçada”.

No primeiro dia, o tempo foi dispendido praticamente na aquisição de um quarto agradável e com uma relação qualidade-preço interessante. Apesar do extenso tempo dispendido, o que não falta no Gerês são espaços deste género, relativamente baratos, confortáveis e com vistas para o rio magníficas, principalmente à noite quando o rio era o espelho das luzes da montanha.

No dia seguinte, subida às serras de carro, no intuito de descobrir um espaço de realização com a natureza, espaço esse que não encontrei, ficando apenas sensibilizado com a Barragem de Vilarinho das Furnas. No regresso à Barragem da Caniçada, parei em S. Bento da Porta Aberta e senti a habitual diferença entre o ruído exterior e a paz harmoniosa da Igreja. Por momentos lembrou-me Fátima, pela energia e pelo cheiro a velas queimadas como sinal de promessa!

Chegando de novo à Barragem da Caniçada, voltei a subir o Gerês, agora por outro lado, e quanto mais explorava, mais tinha a sensação de que o Gerês era um espaço banal de montanha, pedras e arbustos e que para tal também encontraria na vizinhança da minha casa em Coimbra.

Decidi parar o carro e iniciar um trilho com a esperança de ver por dentro o que ainda não tinha visto por fora. Segui o “Trilho dos Currais” e o que vi foi mais do mesmo, tendo grandes dificuldades em encontrar um espaço seguro e confortável entre a natureza. A vontade era tanta de estar em equilíbrio com o Universo que tive de realizar uma auto-cura de Reiki sobre um piso íngreme e coberto de seixos. Escusado será dizer que não foi o meu melhor momento com a verdadeira natureza…

Enfim, não tomo o Gerês como um espaço de rejeição definitiva, porque acredito que o maior erro possa ser meu, uma vez que não planeei convenientemente este passeio, servindo-me de “uma rota à deriva”. Sendo assim, fica a intenção de regressar ao Gerês noutro momento com uma melhor preparação, ou de explorá-lo com uma guia turística particular. Aceitam-se convites! :)