Questionei-me acerca desta incoerência de atitude mesmo após uma linha de conduta regular de amizade durante largo tempo, e coloquei a hipótese da amizade ser uma qualidade inata. Desta forma, nasce e depende unicamente da personalidade de cada indivíduo e permitirá que haja sempre amizade, mesmo para quem não merece, uma vez que é uma qualidade intrínseca de entrega e amor ao próximo que se manterá constante nas relações interpessoais. Assim, ser amigo seria uma constante, porque advém de uma maneira de ser e de estar invariável, dignas de pessoas de bem que procuram conjugar o verdadeiro significado da palavra amor, independentemente do retorno de bem que obtêm.
Contudo, não raras vezes, poderiam denotar uma atitude de regressão e ignorar o amor pela capa que usariam para evitar o sofrimento, como resultado do cansaço físico e psicológico de um conjunto de valores nobres com pouco retorno. Seria uma despersonalização do amor que possuem, como mecanismo do ego anti-álgico perante um sistema corrupto e malicioso, usando como velha máxima “se não os podes vencer, junta-te a eles”.
Depois existiria o grupo dos “eternos conhecidos”, pessoas que nascem selvagens e que transportam o seu individualismo durante o seu percurso de vida, defeito incompatível com o sentimento da amizade. Será um grupo tão variável como extenso, com características individualistas mais marcadas em certos elementos também chamados de “inimigos”, e misturadas com características periódicas de individualismo de outros elementos, estes últimos designados de “amigos da onça”, sem dúvida os mais próximos da fronteira entre a ilusão e a desilusão, a tal desilusão que referi inicialmente.
Sendo assim, haverá solução para a amizade?
Sim! Porque mesmo assim acredito na amizade apreendida, tal como acredito na evolução do ser humano, e mesmo aqueles que nascem com um nível inferior de maturidade humana, acabarão por adquiri-la nesta ou noutras vidas. E assim se constrói a nossa natureza à imagem e semelhança de Deus, assim se constrói aquilo que somos, assim se constrói o amor…
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